quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Política: Joga A Culpa No Fernando Henrique Cardoso!

Eu havia jurado para mim mesmo que não falaria de política nesse blog. Pelo menos não intencionalmente. Por conta disso, deixei de comentar a campanha eleitoral de 2014, o resultado das eleições, e até agora, o estelionato eleitoral da vencedora da eleição presidencial. Mas, depois da cínica declaração da presidente Dilma Roussef no dia 21 de fevereiro, ficou difícil manter minha promessa. Para deixar claro meu repúdio a esse governo que rouba, mente e cinicamente finge que nada faz de errado, resolvi escrever o texto abaixo como forma de protesto.

O culpado é o Fernando Henrique!

Depois de quase três meses se escondendo da imprensa, a presidente Dilma Roussef resolveu falar. Mas ela não abriu a boca para explicar porquê ela escolheu um banqueiro para ser ministro da fazenda, aumentou as tarifas dos combustíveis (apesar da queda do preço dos barris de petróleo) e da energia elétrica e quer restringir o pagamento do seguro desemprego entre outras medidas de seu pacote “de maldades” econômicas. Tudo isso após acusar os adversários da última campanha presidencial de governarem com e para, os banqueiros; aumentar as tarifas públicas; suprimir direitos trabalhistas e arrochar salários através da inflação, caso eles fossem eleitos.

Sobre o reajuste das tarifas de energia elétrica um comentário rápido. Em 2013 ela anunciou com grande pompa, em cadeia de rádio e TV, que iria reduzir as contas de luz em 18%. Do ano passado para cá as tarifas já foram reajustadas em mais de 30%, e especialistas em economia falam de um aumento de mais 70% até o fim do ano...

Diante da sequência de más notícias para o governo (derrota na eleição para a escolha do presidente da Câmara dos Deputados, o Ministro da Justiça apanhado de conchavo com advogados dos empreiteiros envolvidos na Petrorroubalheira, corte de 7 bilhões de reais da receita do Ministério da Educação), e para a população (aumento de tarifas, corte de direitos trabalhistas, inflação, recessão, etc). O cartunista Alpino fez a charge abaixo.


A charge acabou revelando-se profética pois, dois dias depois, Dilma Roussef (talvez aconselhada pelo seu marqueteiro João Santana, ou incentivada pelo padrinho Lula) resolveu atirar em Fernando Henrique Cardoso (FHC), mas acabou atirando no próprio pé. Sinal claro de que a incompetência e a burrice andam lado a lado.

Disse Dilma: “Olhando os dados que vocês mesmos divulgam nos jornais, se em 96 ou 97 tivessem investigado e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante quase 20 anos [beneficiando-se] de corrupção”, disparou Dilma. “A impunidade, e isso eu disse durante a minha campanha, a impunidade leva água para o moinho da corrupção.”

Vocês notaram que enquanto fala ela se esforça para fazer cara de séria enquanto segura
o riso? De quem será que ela está rindo? Dos jornalistas, ou de você que votou nela?

Dilma referia-se a Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, que contou aos procuradores da Operação Lava Jato que começou a receber propinas da holandesa SBM em 1997. É verdade que nessa época, o presidente do Brasil era FHC, mas Barusco também declarou em depoimento que a petrorroubalheira foi “institucionalizada” a partir de 2004, sob a primeira gestão de Lula.

A declaração de Dilma foi muito mais que uma cretinice (outra de uma extensa coleção) com o intuito de tirar dela, e também de Lula e do PT, a responsabilidade pela petrorroubalheira. Com essa declaração, ela acabou por admitir que: Ou é incompetente (pois durante anos não viu a roubalheira que ocorria na Petrobras (só na Petrobras?!). Ou cometeu crime de prevaricação. Pois Dilma dá as cartas no setor petroleiro há 12 anos. Por que não agiu antes? Por que foi contra CPI’s para investigar a estatal? Por que permitiu que seu partido, o PT, amealhasse algo como US$ 200 milhões em petropropinas, segundo estimou o mesmo Barusco? Será que ela sabia o que ocorria?


Dilma estraçalhou o próprio pé ao insinuar que, 18 anos atrás, FHC tinha a obrigação de saber que Barusco embolsava sozinho propinas na Petrobras. Se FHC tinha mesmo que saber desses pequenos e individuais desvios na empresa, então Lula e também ela própria, tinham que saber do esquema que desviou quase um bilhão de dólares dos cofres da Petrobras, entre contratos superfaturados, gastos desnecessários e dinheiro simplemente desviado. Na prática, Dilma admitiu que a corrupção teria sido bem menor na Petrobras, e no Brasil se ela e Lula não tivessem deixado a corrupção tomar contra de toda a máquina pública.

Como não existe explicação plausível para compra (muito acima do valor de mercado) da refinaria de Pasadena ou a construção superfaturada da refinaria de Abreu e Lima, Dilma repetiu, sem conseguir convencer quem quer que seja, as mesmas bobagens ditas por Lula na comemoração dos 35 anos do PT. Fez uma declaração para imprensa, atribuindo a FHC todos os males do Brasil, achando que isso manteria a opinião pública ocupada discutindo se ele era ou não culpado pela petrorroubalheira.


Doze anos, um mês e vinte seis dias se passaram desde que Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso. São quase 157 semanas. Tempo mais do que suficiente para que Lula, Dilma e o PT arrumassem uma desculpa melhor. Nem isso conseguiram. E a resposta veio rápida através da internet e das mídias sociais (as mesmas que o PT elogia quando são usadas por esbirros a soldo do Partido dos Trabalhadores, ou que fazem a defesa da quadrilha incrustrada no poder de graça. Fazer o que? Ainda tem gente que acredita em duendes, gnomos, e em petistas honestos...).

Abaixo uma pequena amostra da “tiração” de sarro com a presidente e com o PT. A reação foi tão forte que até mesmo os mais ferrenhos petistas acabaram por admitir que teria sido melhor Dilma ter ficado calada.





Por fim, um videozinho para você que ainda acredita naquilo que os petistas dizem, ou que finge acreditar para não ter que admitir a PTroubalheira.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Literatura - Lista De Clássicos Para Ler Em 2015

Li esse artigo publicado no site da revista Veja e achei ele muito interessante, além de pertinente e de interesse permanente. Por isso estou reproduzindo em meu blog. Deixei um aviso, no site da Veja, de que iria reproduzí-lo. Caso eles entrem em contato pedindo que eu apague, irei atender a solicitação. Por isso não estranhem o (possível) sumiço desse texto. O endereço original era: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/em-tempo-de-crise-classico-volta-a-ser-bom-negocio-na-literatura

Em tempo de crise, clássico volta a ser um bom negócio 

Por Maria Carolina Maia, com colaboração de Meire Kusumoto
O surgimento de duas pequenas editoras voltadas para o nicho e de coleções em editoras já consolidadas, a Rocco e a Hedra, mostra que o filão recupera fôlego em ano de economia fraca e de efemérides que lançam títulos como o campeão de vendas 'O Pequeno Príncipe' em domínio público. Sorte do leitor


Leitura (iStockphoto/Getty Images) 

Alguém pode dizer que um clássico nunca sai de moda. Isso não é inteiramente verdade. Há ciclos de interesse e de oferta que os tornam mais atraentes de tempos em tempos. Mais quentes. É o que se vê agora no mercado literário brasileiro, e em boa hora. Em um momento em que a economia caminha para a recessão e grandes títulos como O Pequeno Príncipe caem em domínio público ou rumam para tal, duas pequenas editoras começam a operar focadas nesse nicho, e outras duas já consolidadas, a Hedra e a Rocco, preparam coleções — de holandeses “esquecidos” e de obras canônicas para jovens, respectivamente. É uma boa notícia para o leitor, que tem no filão o seu investimento mais seguro.

Consagrados pela qualidade e pela maneira como tocam o público, tanto de sua época quanto das que se seguem a ela, clássicos são livros formadores não apenas de leitores, mas de escritores e de outras obras, de cultura e de imaginário coletivo. Quando se fala de amor, não conhecer a história de Romeu e Julieta é, guardadas as proporções, o mesmo que boiar naquela conversa sobre a novela que você não acompanha. “Um clássico nunca perde a importância. Lendo clássicos, a gente se aproxima do nosso passado comum”, diz Juliana Lopes Bernardino, da Poetisa, editora que iniciou trabalhos no final de 2014 com a ideia de tirar da gaveta traduções feitas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde sua sócia, Cynthia Beatrice Costa, estuda. 

O primeiro livro lançado pela editora, que tem sede em Florianópolis, foi uma tradução integral de Bela e a Fera, que só contava com adaptações no mercado brasileiro. O texto é assinado por Marie-Hélène Catherine Torresta, professora da UFSC. O próximo título da Poetisa, previsto para março, será o infantil O Coelho de Veludo, da inglesa Margery Williams (1881-1944), nunca editado no país. 

Lançado em 1922 na Inglaterra, o livro está entrando em domínio público, algo que, pelas leis brasileiras, acontece 70 anos após a morte do autor. “Nossa intenção é ter de quatro a cinco lançamentos em 2015. Além de clássico ter um retorno mais garantido, há a questão do domínio público. São obras que não custam tanto para a editora”, diz Juliana.

Os clássicos de aventura

A Odisseia
Espécie de sequência de Ilíada, que narra a Guerra de Troia, A Odisseia retrata a volta de Odisseu, o herói do conflito, para seu reino, Ítaca, e para sua mulher, Penélope. Ao longo de 24 cantos e mais de 12 000 versos, o personagem enfrenta uma tormenta e perde seu rumo, o que o leva a encarar toda a sorte de aventuras e levar dez anos para concluir a viagem. No Brasil, o livro é publicado por casas como Penguin, Cosac Naify e Editora 34. Ao lado de Ilíada, este poema épico escrito por volta do século VIII a.C. e atribuído a Homero é considerado o texto inaugural da literatura ocidental.

Dom Quixote
Considerado o primeiro romance moderno, Dom Quixote foi publicado em 1605. No livro, o espanhol Miguel de Cervantes retrata o fidalgo decadente Alonso Quijano, ardoroso fã das histórias de cavalaria que perde o juízo e assume a personalidade de Dom Quixote de La Mancha, partindo em aventuras ao lado do fiel escudeiro Sancho Pança. Idealista, Dom Quixote está sempre em busca de justiça e chega a enfrentar um conjunto de moinhos, que pensa se tratar de gigantes que se colocam em seu caminho. No Brasil, o livro é publicado por casas como Companhia das Letras e Editora 34.

Moby Dick
No livro publicado em 1851, o americano Herman Melville retrata a viagem do navio baleeiro Pequod, da costa dos Estados Unidos para o Pacífico Sul. O narrador da história, o marinheiro Ishmael, aceita integrar a tripulação sem saber que a trajetória da embarcação foi definida por seu capitão, Ahab, que deseja se vingar do cachalote Moby Dick. Em uma de suas viagens anteriores, Ahab enfrentou o animal e sobreviveu, mas perdeu uma das pernas e seu antigo navio. No Brasil, o livro é publicado por casas como Cosac Naify e Editora Landmark.

Robinson Crusoé
No romance de 1719 do inglês Daniel Defoe, Robinson Crusoé é um marujo que perde quase tudo ao naufragar perto de uma ilha da América do Sul. No local, que ele apelida de Ilha do Desespero, ele sobrevive com os objetos que consegue resgatar do navio, no que será uma longa espera por resgate. Ele vive por vinte anos sem qualquer contato com outro ser humano, até que encontra e salva um nativo de um ataque de canibais e o transforma em seu criado. No Brasil, o livro é publicado por casas como Companhia das Letras e Edições BestBolso.

O Coração das Trevas
Publicada originalmente como uma série na revista inglesa Blackwood (1817-1980), a história do britânico de origem polaca Joseph Conrad foi transformada em livro em 1902 e serviu de inspiração para um dos filmes mais conhecidos do diretor Francis Ford Coppola, Apocalypse Now (1979). O enredo acompanha a viagem do marinheiro Charles Marlowe pela selva africana, onde descobre a crueldade dos métodos empregados na exploração e na venda de marfim, principalmente por Kurtz, um comprador do material. No Brasil, o livro é publicado por casas como Companhia das Letras e Hedra.

Em domínio público também entrou neste ano outro clássico que, como Bela e a Fera, é consumido por crianças e adultos, o campeão de vendas O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry (1900-1944). Presença constante nas listas de mais vendidos, onde pode ser visto com a marca da Agir, editora que o publica no país desde 1952, o livro agora deve ganhar edições da L&PM, da Geração Editorial e da Autêntica, entre outras. Preocupada com a perda de seu menino de ouro, a editora do grupo Ediouro já tratou de preparar produtos que compensem o fim da sua exclusividade. No final de 2014, a Agir firmou um contrato de licenciamento com os representantes e herdeiros de Saint-Exupéry para a criação de novos projetos, que já começam a ser publicados a partir de abril deste ano. O primeiro deles é uma versão adaptada para crianças pequenas, feita por Geraldo Carneiro e Ana Paula Pedro.

Se a Agir corre para mitigar o prejuízo causado pela queda em domínio público de O Pequeno Príncipe, a L&PM comemora a novidade. A gaúcha anuncia que a sua edição corrigirá “erros” presentes na da rival, como a omissão de uma estrela em uma cena em que o astrônomo olha por um telescópio. “Na margem interna da página, vê-se uma estrela (justamente o corpo celeste que está sendo observado pelo personagem). Nas edições brasileiras disponíveis para o público até 1º de janeiro de 2015, a estrela era omitida”, diz a editora, que tem 30% de suas vendas feitas de clássicos e para 2015 prepara também uma nova edição de A Divina Comédia, de Dante.

“Para o leitor, o benefício óbvio de toda essa movimentação entre as editoras é que há uma diversificação maior nas prateleiras: o mercado brasileiro atualmente é um dos mais aquecidos do cenário literário internacional, pois as editoras querem agir com rapidez para colocar nas prateleiras o que o público quer ler”, diz Larissa Helena, editora na Rocco Jovens Leitores, que prepara a coleção Memória do Futuro, organizada pelo poeta e tradutor Marco Lucchesi. Outra boa notícia: os livros terão texto na íntegra, e não aquelas adaptações para leitores iniciantes que quase sempre empobrecem a obra. “Clássicos são histórias com apelo universal, que têm qualidade extraordinária na narrativa e que deixaram marcas indeléveis na literatura.”

Histórias clássicas de amor

Romeu e Julieta
A trágica história de amor de Romeu e Julieta foi escrita por William Shakespeare entre os anos 1591 e 1595. Filhos únicos de famílias inimigas, os Montecchio e os Capuleto, os jovens se conhecem em uma festa promovida pelo pai de Julieta e se apaixonam. Para fugir do casamento arranjado pelo pai com Páris, Julieta bebe uma poção que a fará dormir e parecer ter morrido, mas acordará a tempo de ser salva por Romeu. O mocinho, no entanto, descobre a morte da amada antes de saber que ela se trata de uma farsa e toma veneno, tirando a própria vida. Ao acordar, Julieta percebe o que aconteceu e se mata com o punhal de Romeu. No Brasil, o livro tem edições por casas como L&PM e Saraiva.

Madame Bovary
O livro do francês Gustave Flaubert causou controvérsia ao ser publicado, em 1856, por contar a história de uma mulher adúltera. Emma, uma jovem sonhadora que passou a adolescência na companhia de romances açucarados e arrebatadores, se vê frustrada em um casamento entediante com Charles Bovary, um médico do interior da França. Para escapar de seu dia a dia maçante, ela se aventura fora do casamento duas vezes, primeiro com Rodolphe, depois com Léon. No Brasil, o livro tem edições por casas como Penguin e L&PM.

Anna Karenina
Publicado originalmente entre 1875 e 1877 na revista The Russian Messenger, o livro do russo Liev Tolstói conta a história de Anna Karenina, casada com o político Aleksey Karenin, com quem leva uma vida confortável. Ao visitar um irmão em São Petersburgo, Anna conhece o Conde Vronsky, por quem se apaixona. Seu marido logo descobre o caso, mas pede apenas discrição do casal para que sua reputação não seja abalada. Anna concorda, mas engravida de Vronsky e se vê obrigada a deixar o marido. No Brasil, o livro é publicado pela Cosac Naify.

Orgulho e Preconceito
O livro da inglesa Jane Austen sobre o relacionamento de Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy foi publicado em 1813. Elizabeth (Lizzy) é filha de um casal sem muitas posses e tem quatro irmãs, ainda solteiras, que ficam em polvorosa quando dois jovens abastados, Charles Bingley e Darcy, alugam uma casa próxima da propriedade da família. Eles se conhecem e Bingley se apaixona por Jane, filha mais velha dos Bennet, enquanto Darcy se aproxima e se surpreende com o gênio orgulhoso de Lizzy, que, por sua vez, despreza a arrogância do jovem. No Brasil, o livro pode ser encontrado em edições de casas como Penguin, L&PM e Editora Landmark.

O Morro dos Ventos Uivantes
O livro foi publicado pela inglesa Emily Brontë em 1847, sob o pseudônimo de Ellis Bell. Na história, a família Earnshaw adota um garoto, Heathcliff, que logo conquista seus pais e sua irmã adotiva, Catherine, deixando o filho legítimo, Hindley, enciumado. Quando o casal morre, Hindley passa a maltratar e humilhar Heathcliff. Ele deixa a casa e só volta anos mais tarde, rico, quando sua amada Catherine já está casada com Edgar Linton. Cathy morre no parto e Heathcliff decide levar a cabo seu plano de vingança contra Edgar e Hindley. No Brasil, o livro é publicado por casas como L&PM e Editora Landmark.

Do outro lado do balcão – Não são apenas os leitores que ganham com os clássicos. Para as editoras, eles também são um ótimo investimento. De acordo com Regina Zilberman, professora de literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), clássicos são o que as editoras chamam de backlog, catálogo que fica no fundo da livraria e não na vitrine (frontlog), e que tem sempre procura. “Basta que pertença a um certo cânone da literatura que vai vender sempre, seja para escolas seja para o leitor que quer se instruir. Então, ele garante uma certa estabilidade para as editoras”, diz. “E ainda conta com a propaganda boca-a-boca e com as compras do governo para escolas e bibliotecas, que sem dúvida são interessantes.”

Editor-executivo de ficção nacional e não ficção nacional e estrangeira da gigante Record, Carlos Andreazza confirma o que diz a professora da UFRGS. “Não publicamos livro por caridade. Publicamos porque dá lucro. Clássico dá prestígio e visibilidade, vende e dá lucro. Clássico dá lucro”, diz Andreazza, lembrando que a Record edita um dos maiores clássicos nacionais, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos desde meados de 1970 – 70.000 cópias só no ano passado.

Luis Dolhnikoff, da Hedra, que tem metade do catálogo feita de clássicos e 80% das vendas garantidas por eles, faz coro. A editora, que inicia sua coleção de holandeses com a coletânea Contos Holandeses (1839-1937), prevista para o primeiro semestre deste ano, mira nesse nicho desde seu início, há quinze anos, porque, além de uma importância intrínseca, clássicos têm público assegurado. "No primeiro semestre, também vamos lançar A Demanda do Santo Graal, traduzido a partir do alemão do século XIII. Um clássico do Rei Arthur que pode atingir até quem é fã de Tolkien”, diz Dolhnikoff, mostrando faro comercial.

A Carambaia, editora que começa a operar agora com o lançamento de três títulos considerados “furos literários” – Homens em Guerra, do austro-húngaro Andreas Latzko (1876-1943), Soldados Rasos, do australiano Frederic Manning (1822-1935), e Juncos ao Vento, da italiana Grazia Deledda (1871-1936) –, aposta em novos canais para atingir um público leitor que amadurece. “Vamos vender pela internet e via parceria com institutos de fomento à cultura. Livrarias podem entrar em um segundo ano, em parcerias pontuais, com exclusividade”, diz Fabiano Curi, criador da editora, que focará em livros de domínio público. “Não vamos trabalhar com livraria, porque ela fica em média com 50% do preço de capa.”

Esse novo florescimento dos clássicos, para Leandro Sarmatz, editor na Companhia das Letras, que estreitou sua relação com os clássicos ao ser adquirida pela Penguin, em 2011, deve trazer benefícios a leitores e a editoras. “Os benefícios são diversos, e vão desde questões como preço, diversidade de traduções e amadurecimento do mercado à popularização do melhor repertório literário da humanidade. Mercados maduros têm várias edições de Homero, ou Flaubert, ou Tolstói. Isso está começando a vicejar entre nós. E só pode ser algo positivo.”

Os clássicos do modernismo

O Som e a Fúria
Publicado em 1929, o livro do americano William Faulkner é organizado em quatro capítulos, contados a partir da visão de quatro personagens, entre 1910 e 1928. Os três primeiros são rememorações de três irmãos da família Compson – Benjy, Quentin e Jason – sobre sua irmã, Caddy. Já o último capítulo é narrado pelo próprio Faulkner, mas a partir das lembranças de Dilsey, uma cozinheira que ajudou a família na criação de seus filhos. Como pano de fundo, está o sul dos Estados Unidos, arrasado após a Guerra de Secessão. O livro é publicado no Brasil pela Cosac Naify.

Em Busca do Tempo Perdido
Os sete volumes da obra do francês Marcel Proust foram publicados entre 1913 e 1927. Nas mais de 3 000 páginas, o narrador, cujo nome é vagamente revelado como sendo Marcel, no quinto volume, lembra toda a sua vida, desde a infância. A história, baseada levemente na trajetória de Proust, se passa entre o fim do século XIX e o começo do século XX e entrelaça acontecimentos na França, no mundo e na vida do narrador, incluindo seus pensamentos e suas emoções. Os livros foram publicados no Brasil pela Biblioteca Azul e a Companhia das Letras também planeja uma edição.

Ulysses
Publicado em 1922 pelo escritor irlandês James Joyce, o livro foi inspirado em A Odisseia, de Homero. Ao contrário do poema épico que retrata dez anos da vida de Odisseu, a história de dois amigos, Leopold Bloom e Stephen Dedalus, se passa em apenas um dia, 16 de junho de 1904, em Dublin. Bloom passa por diversas provações ao longo de seu caminho até voltar para casa, onde sua mulher o espera.

Vidas Secas
O alagoano Graciliano Ramos publicou Vidas Secas em 1938. A história se passa em um ano não determinado, no Nordeste brasileiro, e retrata uma família composta por Fabiano, Sinha Vitória, dois filhos – menino mais novo e menino mais velho –, a cachorra Baleia e um papagaio, que foge da seca em busca de melhores condições de vida. A família encontra uma fazenda e se estabelece, mas logo a seca também atinge o lugar, obrigando-os a sair de lá. O romance é publicado no Brasil pela editora Record.

Grande Sertão: Veredas
No livro publicado em 1956, o mineiro João Guimarães Rosa dá voz a Riobaldo, que lembra passagens de sua vida e fala de suas inquietações a um “doutor”, que nunca aparece ou se identifica. Ele fala de sua trajetória como jagunço, primeiro no bando de Zé Bebelo, depois no de Joca Ramiro, ao lado de Diadorim, e depois no de Titão Passos. O livro é publicado no Brasil pela Nova Fronteira.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Tá No Ar: A TV Na TV - Edição 2015

No ano passado estreiou na Rede Globo o programa Tá No Ar: A TV Na TV. Fazendo sátira com a linguagem televisiva (a começar pela rápida mudança de quadros cômicos, simulando o "zapping" com o controle remoto) o programa caiu no gosto popular, e o que parecia ser apenas uma atração de curta duração, acabou se tornando um programa permanente da grade da Rede Globo de Televisão.

O texto abaixo é de autoria da jornalista Cristina Padiglione do Jornal O Estado De São Paulo. Eu deveria ter postado esse texto a mais tempo (ele foi publicado no site do Estadão no dia 13 de fevereiro), mas estive meio sem tempo. Mesmo atrasado vale publicação. O link para a crítica dela é: http://cultura.estadao.com.br/blogs/cristina-padiglione/ta-no-ar-avanca-na-acidez-do-humor/

"Tá no Ar" avança na acidez do humor

Por Cristina Padiglione
“Mas é realmente necessário lembrar ao público que a festa que a gente promove há décadas é bancada pela contravenção?”

Essa seria a pergunta que Marcius Melhem, Marcelo Adnet e Maurício Farias ouviriam, poucos anos atrás, de algum grande diretor da Globo, sobre o clipe que encerrou o episódio de estreia da 2ª temporada do humorístico Tá No Ar, nessa quinta-feira.

Jamais se viu crítica tão contundente à indústria carnavalesca que sustenta Sapucaí e Anhembi, na tela da Globo, em produção digna de padrão Globo, do figurino e maquiagem à qualidade de áudio. Adnet puxa o samba-enredo Amarelo e Cinza, obra superior a muito exemplar desse repertório desfilado por essas plagas. É demais para quem acostumou-se a ver a Globo com um filtro politicamente correto.

Se o programa foi comparado ao TV Pirata no ano passado, quando surgiu, pode apostar que nem aquele TV Pirata dos primórdios ousou cutucar a própria casa tão de perto. O paralelo vale mais para a paródia de filmes publicitários, quesito que a antiga direção da Globo foi anulando da pauta do velho Casseta & Planeta, e agora ressurge, em exemplos revigorados, no Tá no Ar.

Teve até o “Cereal Killer”, piada com Bruno Gagliasso, que reencarna seu papel da série Dupla Identidade e atira cruelmente no tigre fofo da Kellog’s.

Viva o oxigênio dos novos tempos.

Cena do quadro cômico Balada Vip. Não sei de quem é a autoria desta foto...

Autocrítica, aliás, abriu e fechou o episódio de estreia desta temporada. Adnet e Melhem pegaram carona no BBB, em cena gravada no quarto do líder, com direito a poema ao modo Pedro Bial, com quem interagiram por meio do monitor da casa dos brothers, como se estivessem no reality show. E não foi necessário qualquer retoque de maquiagem para explicitar a imitação ao mestre de cerimônias do BBB. Bastaram o ritmo e o conteúdo da declamação. “Pode sair daí, vai pra casa descansar, Pedro Bial, porque acabou o BBB“. O anúncio se emendou a um quadro que explorou o drama dos ex-BBBs, uma analogia à cracolândia, de candidatos esquecidos pela mídia, após adquirirem o “vício da fama”.

De novo, não houve, nem fora da Globo, crítica que expusesse de modo mais eficaz a praga do BBB.

E daí? O reality vai se desgastar por isso? Nem de longe. O que os humoristas fazem, com aval da emissora, é honrar o senso de oportunidade: se tanta gente adora odiar o BBB, nada mais rentável do que se valer desse discurso, por meio do humor.

O crítico da Rede Globo, militante nordestino vivido por Adnet, está mais inquieto que nunca. Encarregou-se de bater no esquete que poderia render protestos da militância negra – um comercial do século retrasado que, ao modo Casas Bahia, vendia escravos em ritmo de grande liquidação. “Esse processo de michaeljackzação da TV brasileira… ” “Por que Escrava Isaura era branca? Pra que Lucélia, se nós tínhamos Zezé Motta?” Numa segunda aparição, o crítico militante misturou FHC, Bill Clinton, Mujica e William Waack na mesma panela, ao falar sobre o “cigarrinho” que fumam lá pelas bandas de Jacarepaguá, não por acaso, onde está o Projac. Como de praxe, ele surge na tela nervoso, num vídeo caseiro, cheio de chuviscos, como se impusesse um recado pirata, e nunca consegue concluir o que quer dizer.

Também de volta, tivemos o Jardim Urgente, paródia aos Cidades Alertas e Datenas da vida, em que o apresentador, na pele de Welder Rodrigues, destrói o discurso sensacionalista por meio de personagens infantis. “Foca em Mim!”, pede ao câmera, que atira uma foca em sua direção.

E o ótimo Balada Vip, deboche sem filtro da elite de São Paulo, de uma maneira que só alguém de fora de São Paulo poderia fazer. Sim, paulistanos sempre ofendidos com as provocações cariocas, aquele personagem existe na vida real e está personificado em Amaury Jr., assim como seu entrevistado, Tony Karlakian, que promove “o carnaval mais diferenciado do País”, antes do carnaval, pra poder ir a Aspen no feriado.

Entre as novas esquetes, ponto para Vingança dos Famosos, quando Regina Duarte, numa inversão de papéis, aborda um tabelião durante o almoço dele com a família num restaurante.

Não sei de quem é a autoria desta foto, apenas sei que foi
 usada para ilustrar o texto original da Cristina Padiglione.

Na nova temporada, o Tá no Ar está ainda mais frenético na edição do efeito zapping, cortes curtos que dão ao espectador a sensação de quem passeia por 100 canais, sem dar à maioria das emissoras mais que dois segundos de chance de ser vista.

Quando se pensa que o programa acabou, vem o ponto mais alto, o tal samba-enredo.
Afinado e afiado, Adnet endossa a capacidade, da qual tanto duvidaram quando veio da MTV, de fazer bom uso de seu cérebro na estrutura monumental do Projac.

Diz a letra do samba:
“Veio da esquina, do dinheiro da contravenção / Qual foi o bicho que deu / Explode caça-níquel de emoção / Um grito se espalha pelo ar, num enredo patrocinado / Close na bunda e replay pra disfarçar / Que o dinheiro não foi declarado / E o tráfico de armas vai bancando o abre alas / Nosso patrono não veio por motivos de força maior / Alô, Bangu 3 (…) / Deixou no lugar o seu primo, laranja que segura o B.O. / E o Rio, de preços divinais, superfatura nossos carnavais / E a pseudocelebridade, fazendo juras de amor à comunidade / Festa da hipocrisia / Camarote lado a lado / O político e o bicheiro /celebrando abraçados / Tem quizumba na bunfunfa, mulata fenomenal, incentivando o turismo sexual (…)”

É o que há.