segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Literatura - Lista De Clássicos Para Ler Em 2015

Li esse artigo publicado no site da revista Veja e achei ele muito interessante, além de pertinente e de interesse permanente. Por isso estou reproduzindo em meu blog. Deixei um aviso, no site da Veja, de que iria reproduzí-lo. Caso eles entrem em contato pedindo que eu apague, irei atender a solicitação. Por isso não estranhem o (possível) sumiço desse texto. O endereço original era: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/em-tempo-de-crise-classico-volta-a-ser-bom-negocio-na-literatura

Em tempo de crise, clássico volta a ser um bom negócio 

Por Maria Carolina Maia, com colaboração de Meire Kusumoto
O surgimento de duas pequenas editoras voltadas para o nicho e de coleções em editoras já consolidadas, a Rocco e a Hedra, mostra que o filão recupera fôlego em ano de economia fraca e de efemérides que lançam títulos como o campeão de vendas 'O Pequeno Príncipe' em domínio público. Sorte do leitor


Leitura (iStockphoto/Getty Images) 

Alguém pode dizer que um clássico nunca sai de moda. Isso não é inteiramente verdade. Há ciclos de interesse e de oferta que os tornam mais atraentes de tempos em tempos. Mais quentes. É o que se vê agora no mercado literário brasileiro, e em boa hora. Em um momento em que a economia caminha para a recessão e grandes títulos como O Pequeno Príncipe caem em domínio público ou rumam para tal, duas pequenas editoras começam a operar focadas nesse nicho, e outras duas já consolidadas, a Hedra e a Rocco, preparam coleções — de holandeses “esquecidos” e de obras canônicas para jovens, respectivamente. É uma boa notícia para o leitor, que tem no filão o seu investimento mais seguro.

Consagrados pela qualidade e pela maneira como tocam o público, tanto de sua época quanto das que se seguem a ela, clássicos são livros formadores não apenas de leitores, mas de escritores e de outras obras, de cultura e de imaginário coletivo. Quando se fala de amor, não conhecer a história de Romeu e Julieta é, guardadas as proporções, o mesmo que boiar naquela conversa sobre a novela que você não acompanha. “Um clássico nunca perde a importância. Lendo clássicos, a gente se aproxima do nosso passado comum”, diz Juliana Lopes Bernardino, da Poetisa, editora que iniciou trabalhos no final de 2014 com a ideia de tirar da gaveta traduções feitas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde sua sócia, Cynthia Beatrice Costa, estuda. 

O primeiro livro lançado pela editora, que tem sede em Florianópolis, foi uma tradução integral de Bela e a Fera, que só contava com adaptações no mercado brasileiro. O texto é assinado por Marie-Hélène Catherine Torresta, professora da UFSC. O próximo título da Poetisa, previsto para março, será o infantil O Coelho de Veludo, da inglesa Margery Williams (1881-1944), nunca editado no país. 

Lançado em 1922 na Inglaterra, o livro está entrando em domínio público, algo que, pelas leis brasileiras, acontece 70 anos após a morte do autor. “Nossa intenção é ter de quatro a cinco lançamentos em 2015. Além de clássico ter um retorno mais garantido, há a questão do domínio público. São obras que não custam tanto para a editora”, diz Juliana.

Os clássicos de aventura

A Odisseia
Espécie de sequência de Ilíada, que narra a Guerra de Troia, A Odisseia retrata a volta de Odisseu, o herói do conflito, para seu reino, Ítaca, e para sua mulher, Penélope. Ao longo de 24 cantos e mais de 12 000 versos, o personagem enfrenta uma tormenta e perde seu rumo, o que o leva a encarar toda a sorte de aventuras e levar dez anos para concluir a viagem. No Brasil, o livro é publicado por casas como Penguin, Cosac Naify e Editora 34. Ao lado de Ilíada, este poema épico escrito por volta do século VIII a.C. e atribuído a Homero é considerado o texto inaugural da literatura ocidental.

Dom Quixote
Considerado o primeiro romance moderno, Dom Quixote foi publicado em 1605. No livro, o espanhol Miguel de Cervantes retrata o fidalgo decadente Alonso Quijano, ardoroso fã das histórias de cavalaria que perde o juízo e assume a personalidade de Dom Quixote de La Mancha, partindo em aventuras ao lado do fiel escudeiro Sancho Pança. Idealista, Dom Quixote está sempre em busca de justiça e chega a enfrentar um conjunto de moinhos, que pensa se tratar de gigantes que se colocam em seu caminho. No Brasil, o livro é publicado por casas como Companhia das Letras e Editora 34.

Moby Dick
No livro publicado em 1851, o americano Herman Melville retrata a viagem do navio baleeiro Pequod, da costa dos Estados Unidos para o Pacífico Sul. O narrador da história, o marinheiro Ishmael, aceita integrar a tripulação sem saber que a trajetória da embarcação foi definida por seu capitão, Ahab, que deseja se vingar do cachalote Moby Dick. Em uma de suas viagens anteriores, Ahab enfrentou o animal e sobreviveu, mas perdeu uma das pernas e seu antigo navio. No Brasil, o livro é publicado por casas como Cosac Naify e Editora Landmark.

Robinson Crusoé
No romance de 1719 do inglês Daniel Defoe, Robinson Crusoé é um marujo que perde quase tudo ao naufragar perto de uma ilha da América do Sul. No local, que ele apelida de Ilha do Desespero, ele sobrevive com os objetos que consegue resgatar do navio, no que será uma longa espera por resgate. Ele vive por vinte anos sem qualquer contato com outro ser humano, até que encontra e salva um nativo de um ataque de canibais e o transforma em seu criado. No Brasil, o livro é publicado por casas como Companhia das Letras e Edições BestBolso.

O Coração das Trevas
Publicada originalmente como uma série na revista inglesa Blackwood (1817-1980), a história do britânico de origem polaca Joseph Conrad foi transformada em livro em 1902 e serviu de inspiração para um dos filmes mais conhecidos do diretor Francis Ford Coppola, Apocalypse Now (1979). O enredo acompanha a viagem do marinheiro Charles Marlowe pela selva africana, onde descobre a crueldade dos métodos empregados na exploração e na venda de marfim, principalmente por Kurtz, um comprador do material. No Brasil, o livro é publicado por casas como Companhia das Letras e Hedra.

Em domínio público também entrou neste ano outro clássico que, como Bela e a Fera, é consumido por crianças e adultos, o campeão de vendas O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry (1900-1944). Presença constante nas listas de mais vendidos, onde pode ser visto com a marca da Agir, editora que o publica no país desde 1952, o livro agora deve ganhar edições da L&PM, da Geração Editorial e da Autêntica, entre outras. Preocupada com a perda de seu menino de ouro, a editora do grupo Ediouro já tratou de preparar produtos que compensem o fim da sua exclusividade. No final de 2014, a Agir firmou um contrato de licenciamento com os representantes e herdeiros de Saint-Exupéry para a criação de novos projetos, que já começam a ser publicados a partir de abril deste ano. O primeiro deles é uma versão adaptada para crianças pequenas, feita por Geraldo Carneiro e Ana Paula Pedro.

Se a Agir corre para mitigar o prejuízo causado pela queda em domínio público de O Pequeno Príncipe, a L&PM comemora a novidade. A gaúcha anuncia que a sua edição corrigirá “erros” presentes na da rival, como a omissão de uma estrela em uma cena em que o astrônomo olha por um telescópio. “Na margem interna da página, vê-se uma estrela (justamente o corpo celeste que está sendo observado pelo personagem). Nas edições brasileiras disponíveis para o público até 1º de janeiro de 2015, a estrela era omitida”, diz a editora, que tem 30% de suas vendas feitas de clássicos e para 2015 prepara também uma nova edição de A Divina Comédia, de Dante.

“Para o leitor, o benefício óbvio de toda essa movimentação entre as editoras é que há uma diversificação maior nas prateleiras: o mercado brasileiro atualmente é um dos mais aquecidos do cenário literário internacional, pois as editoras querem agir com rapidez para colocar nas prateleiras o que o público quer ler”, diz Larissa Helena, editora na Rocco Jovens Leitores, que prepara a coleção Memória do Futuro, organizada pelo poeta e tradutor Marco Lucchesi. Outra boa notícia: os livros terão texto na íntegra, e não aquelas adaptações para leitores iniciantes que quase sempre empobrecem a obra. “Clássicos são histórias com apelo universal, que têm qualidade extraordinária na narrativa e que deixaram marcas indeléveis na literatura.”

Histórias clássicas de amor

Romeu e Julieta
A trágica história de amor de Romeu e Julieta foi escrita por William Shakespeare entre os anos 1591 e 1595. Filhos únicos de famílias inimigas, os Montecchio e os Capuleto, os jovens se conhecem em uma festa promovida pelo pai de Julieta e se apaixonam. Para fugir do casamento arranjado pelo pai com Páris, Julieta bebe uma poção que a fará dormir e parecer ter morrido, mas acordará a tempo de ser salva por Romeu. O mocinho, no entanto, descobre a morte da amada antes de saber que ela se trata de uma farsa e toma veneno, tirando a própria vida. Ao acordar, Julieta percebe o que aconteceu e se mata com o punhal de Romeu. No Brasil, o livro tem edições por casas como L&PM e Saraiva.

Madame Bovary
O livro do francês Gustave Flaubert causou controvérsia ao ser publicado, em 1856, por contar a história de uma mulher adúltera. Emma, uma jovem sonhadora que passou a adolescência na companhia de romances açucarados e arrebatadores, se vê frustrada em um casamento entediante com Charles Bovary, um médico do interior da França. Para escapar de seu dia a dia maçante, ela se aventura fora do casamento duas vezes, primeiro com Rodolphe, depois com Léon. No Brasil, o livro tem edições por casas como Penguin e L&PM.

Anna Karenina
Publicado originalmente entre 1875 e 1877 na revista The Russian Messenger, o livro do russo Liev Tolstói conta a história de Anna Karenina, casada com o político Aleksey Karenin, com quem leva uma vida confortável. Ao visitar um irmão em São Petersburgo, Anna conhece o Conde Vronsky, por quem se apaixona. Seu marido logo descobre o caso, mas pede apenas discrição do casal para que sua reputação não seja abalada. Anna concorda, mas engravida de Vronsky e se vê obrigada a deixar o marido. No Brasil, o livro é publicado pela Cosac Naify.

Orgulho e Preconceito
O livro da inglesa Jane Austen sobre o relacionamento de Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy foi publicado em 1813. Elizabeth (Lizzy) é filha de um casal sem muitas posses e tem quatro irmãs, ainda solteiras, que ficam em polvorosa quando dois jovens abastados, Charles Bingley e Darcy, alugam uma casa próxima da propriedade da família. Eles se conhecem e Bingley se apaixona por Jane, filha mais velha dos Bennet, enquanto Darcy se aproxima e se surpreende com o gênio orgulhoso de Lizzy, que, por sua vez, despreza a arrogância do jovem. No Brasil, o livro pode ser encontrado em edições de casas como Penguin, L&PM e Editora Landmark.

O Morro dos Ventos Uivantes
O livro foi publicado pela inglesa Emily Brontë em 1847, sob o pseudônimo de Ellis Bell. Na história, a família Earnshaw adota um garoto, Heathcliff, que logo conquista seus pais e sua irmã adotiva, Catherine, deixando o filho legítimo, Hindley, enciumado. Quando o casal morre, Hindley passa a maltratar e humilhar Heathcliff. Ele deixa a casa e só volta anos mais tarde, rico, quando sua amada Catherine já está casada com Edgar Linton. Cathy morre no parto e Heathcliff decide levar a cabo seu plano de vingança contra Edgar e Hindley. No Brasil, o livro é publicado por casas como L&PM e Editora Landmark.

Do outro lado do balcão – Não são apenas os leitores que ganham com os clássicos. Para as editoras, eles também são um ótimo investimento. De acordo com Regina Zilberman, professora de literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), clássicos são o que as editoras chamam de backlog, catálogo que fica no fundo da livraria e não na vitrine (frontlog), e que tem sempre procura. “Basta que pertença a um certo cânone da literatura que vai vender sempre, seja para escolas seja para o leitor que quer se instruir. Então, ele garante uma certa estabilidade para as editoras”, diz. “E ainda conta com a propaganda boca-a-boca e com as compras do governo para escolas e bibliotecas, que sem dúvida são interessantes.”

Editor-executivo de ficção nacional e não ficção nacional e estrangeira da gigante Record, Carlos Andreazza confirma o que diz a professora da UFRGS. “Não publicamos livro por caridade. Publicamos porque dá lucro. Clássico dá prestígio e visibilidade, vende e dá lucro. Clássico dá lucro”, diz Andreazza, lembrando que a Record edita um dos maiores clássicos nacionais, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos desde meados de 1970 – 70.000 cópias só no ano passado.

Luis Dolhnikoff, da Hedra, que tem metade do catálogo feita de clássicos e 80% das vendas garantidas por eles, faz coro. A editora, que inicia sua coleção de holandeses com a coletânea Contos Holandeses (1839-1937), prevista para o primeiro semestre deste ano, mira nesse nicho desde seu início, há quinze anos, porque, além de uma importância intrínseca, clássicos têm público assegurado. "No primeiro semestre, também vamos lançar A Demanda do Santo Graal, traduzido a partir do alemão do século XIII. Um clássico do Rei Arthur que pode atingir até quem é fã de Tolkien”, diz Dolhnikoff, mostrando faro comercial.

A Carambaia, editora que começa a operar agora com o lançamento de três títulos considerados “furos literários” – Homens em Guerra, do austro-húngaro Andreas Latzko (1876-1943), Soldados Rasos, do australiano Frederic Manning (1822-1935), e Juncos ao Vento, da italiana Grazia Deledda (1871-1936) –, aposta em novos canais para atingir um público leitor que amadurece. “Vamos vender pela internet e via parceria com institutos de fomento à cultura. Livrarias podem entrar em um segundo ano, em parcerias pontuais, com exclusividade”, diz Fabiano Curi, criador da editora, que focará em livros de domínio público. “Não vamos trabalhar com livraria, porque ela fica em média com 50% do preço de capa.”

Esse novo florescimento dos clássicos, para Leandro Sarmatz, editor na Companhia das Letras, que estreitou sua relação com os clássicos ao ser adquirida pela Penguin, em 2011, deve trazer benefícios a leitores e a editoras. “Os benefícios são diversos, e vão desde questões como preço, diversidade de traduções e amadurecimento do mercado à popularização do melhor repertório literário da humanidade. Mercados maduros têm várias edições de Homero, ou Flaubert, ou Tolstói. Isso está começando a vicejar entre nós. E só pode ser algo positivo.”

Os clássicos do modernismo

O Som e a Fúria
Publicado em 1929, o livro do americano William Faulkner é organizado em quatro capítulos, contados a partir da visão de quatro personagens, entre 1910 e 1928. Os três primeiros são rememorações de três irmãos da família Compson – Benjy, Quentin e Jason – sobre sua irmã, Caddy. Já o último capítulo é narrado pelo próprio Faulkner, mas a partir das lembranças de Dilsey, uma cozinheira que ajudou a família na criação de seus filhos. Como pano de fundo, está o sul dos Estados Unidos, arrasado após a Guerra de Secessão. O livro é publicado no Brasil pela Cosac Naify.

Em Busca do Tempo Perdido
Os sete volumes da obra do francês Marcel Proust foram publicados entre 1913 e 1927. Nas mais de 3 000 páginas, o narrador, cujo nome é vagamente revelado como sendo Marcel, no quinto volume, lembra toda a sua vida, desde a infância. A história, baseada levemente na trajetória de Proust, se passa entre o fim do século XIX e o começo do século XX e entrelaça acontecimentos na França, no mundo e na vida do narrador, incluindo seus pensamentos e suas emoções. Os livros foram publicados no Brasil pela Biblioteca Azul e a Companhia das Letras também planeja uma edição.

Ulysses
Publicado em 1922 pelo escritor irlandês James Joyce, o livro foi inspirado em A Odisseia, de Homero. Ao contrário do poema épico que retrata dez anos da vida de Odisseu, a história de dois amigos, Leopold Bloom e Stephen Dedalus, se passa em apenas um dia, 16 de junho de 1904, em Dublin. Bloom passa por diversas provações ao longo de seu caminho até voltar para casa, onde sua mulher o espera.

Vidas Secas
O alagoano Graciliano Ramos publicou Vidas Secas em 1938. A história se passa em um ano não determinado, no Nordeste brasileiro, e retrata uma família composta por Fabiano, Sinha Vitória, dois filhos – menino mais novo e menino mais velho –, a cachorra Baleia e um papagaio, que foge da seca em busca de melhores condições de vida. A família encontra uma fazenda e se estabelece, mas logo a seca também atinge o lugar, obrigando-os a sair de lá. O romance é publicado no Brasil pela editora Record.

Grande Sertão: Veredas
No livro publicado em 1956, o mineiro João Guimarães Rosa dá voz a Riobaldo, que lembra passagens de sua vida e fala de suas inquietações a um “doutor”, que nunca aparece ou se identifica. Ele fala de sua trajetória como jagunço, primeiro no bando de Zé Bebelo, depois no de Joca Ramiro, ao lado de Diadorim, e depois no de Titão Passos. O livro é publicado no Brasil pela Nova Fronteira.

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