quarta-feira, 4 de março de 2015

Prêmio Pulitzer De Fotografia: Ano 1945

Ano passado comecei a postar uma série com as fotografias vencedoras do Prêmio Pulitzer. Estou retomando a sequência daquelas postagens escrevendo sobre o ganhador do prêmio de 1945. Sempre que possível irei também contar as histórias por trás de cada fotografia (contexto em que foi tirada, autor da foto, como foi tirada, a repercussão, etc), como nem sempre poderei ter todas as informações a minha disposição na hora em que postar, pode ser que eu reveja os textos, acrescentando ou corrigindo informações. Um aviso: O prêmio de fotografia de 1946 não teve ganhador.

Prêmio Pulitzer de 1945: Categoria Fotografia

Vencedor: Joseph John Joe Hosenthal da Associated Press

Título: “Raising The Flag On Iwo Jima” (“Hasteando A Bandeira Em Iwo Jima”)

Câmera: 4X5 Speed Graphic

Lente: 127mm

Velocidade E Abertura Do Obturador: Desconhecido

Filme: Kodak



Em 19 de agosto de 1945 os Estados Unidos invadiram Iwo Jima, uma ilha vulcânica, localizada a quase 1.200 quilômetros ao sul de Tóquio. Por estar localizada a meio caminho entre as Ilhas Marianas (de onde partiam os bombardeiros de longo alcance americanos) e o Japão, a conquista da ilha era de grande valor estratégico. Iwo Jima possuia estações de radar (que detectavam a presença das aeronaves americanas) e pistas de pouso de onde partiam aviões que atacavam os aviões e navios inimigos. A captura de Iwo Jima além de dar mais segurança aos pilotos e marinheiros americanos, também forneceria aos bombardeiros americanos danificados uma pista para pousos de emergência.

Cientes da invasão iminente, os japoneses fortificaram a ilha com uma rede de túneis e casamatas de onde resistiriam aos fuzileiros norte americanos. Por ser o primeiro solo pátria japonesa a ser capturado pelos americanos, os japoneses não pouparam esforços e vidas para evitar a queda de Iwo Jima. Diante da encarniçada resistência nipônica, restou aos fuzileiros americanos fazerem uso de cargas de demolição e lanças chamas com o objetivo de “desentocar” os japoneses das casamatas e limpar os túneis. O primeiro objetivo americano se concentrou em isolar e capturar o Monte Suribachi, um extinto vulcão, com 166 metros de altura, situado na ponta sul da ilha, meta que foi alcançada em 23 de fevereiro de 1945.

Os dois hasteamentos da bandeira
A histórica fotografia tirada por Joe Rosenthal retrata na verdade o segundo hasteamento da bandeira norte americana no Monte Suribachi. No início da manhã de 23 de fevereiro de 1945, o sargento Louis R. Lowery, da revista Leatherneck, registrou o primeiro hasteamento da bandeira logo após a tomada do Monte Suribachi. Mas a bandeira era pequena demais para ser vista claramente a partir das praias de desembarque, por isso providenciou-se uma bandeira maior que a primeira. Está foi levada até o cume pelo sargento Michael Strank, o cabo Harlon H. Block, os soldados de primeira classe Franklin R. Sousley e Ira H. Hayes. Logo após o soldado de primeira classe Rene A. Gagnon também foi enviado. Acompanhando a patrulha iam Joe Rosenthal (fotógrafo da Associated Press) e os fotógrafos da Marinha Americana Bob Campbell e Bill Genaust (este último foi morto em ação nove dias após o hasteamento da bandeira). No meio do caminho, os fotógrafos encontraram e conversaram com o sargento Louis R. Lowery, que tinha fotografado o hasteamento da bandeira anterior.

O grupo alcançou o cume, e os fuzileiros imediatamente trataram de substituir a bandeira menor pela maior. Joe Rosenthal largou a câmera e procurou a empilhar pedras, com a intenção de ficar em um ponto de vista mais alto, quando percebeu que os fuzileiros já havia começado a hastear a bandeira com o auxílio do marinheiro de segunda classe John Bradley (que havia participado do hasteamento da primeira bandeira). Rosenthal rapidamente levantou a câmera e tirou uma foto sem olhar pelo visor. Dez anos mais tarde, ele contou: 

"Com o canto do meu olho, eu tinha visto os homens começando a hastear a bandeira. Eu ergui minha câmera e registrei a cena. É assim que a foto foi tirada, e quando você tira uma foto como essa, você não sai dizendo que você tem uma grande foto. Você não sabe".


As imagens em movimento (filme) feitas por Bill Genaust do hasteamento da
bandeira quase que do mesmo ponto de vista de Joe Rosenthal

O destino dos envolvidos na fotografia
Dos seis homens que aparecem na foto (Michael Strank, Rene Gagnon, Ira Hayes, Franklin Sousley, Harlon Block e John Bradley) apenas três (Hayes, Gagnon, e Bradley) sobreviveram à batalha. Strank foi morto seis dias após o hasteamento da bandeira quando estilhaços de um projétil, provavelmente disparado de um destróier americano, abriu seu peito; Block foi morto por um morteiro japonês poucas horas depois de Strank; Sousley foi baleado e morto por um franco-atirador em 21 de março, cinco dias antes da batalha pela ilha terminar.

Ira Hayes, um nativo americano, passou a ter sentimento de culpa por se tornar um herói nacional, enquanto que amigos seus haviam morrido sem glórias militares e reconhecimento. Tornou-se alcoólatra e morreu de coma alcoólico em janeiro de 1955. Foi sepultado com honras militares no Cemitério Nacional de Arlington. Rene Gagnon também se tornou amargurado e um alcoólatra. Trabalhou em empregos mal remunerados e foi demitido da maioria deles. Morreu em outubro de 1979 de ataque cardíaco.

John Bradley nunca falou de seu envolvimento guerra, nem mesmo para sua família, exceto no primeiro encontro com sua futura esposa e durante uma entrevista, em 1985, a pedido de sua esposa por causa de seus netos. Depois de sua morte, em 1994, seu filho, James Bradley, entrevistou todos os familiares dos outros envolvidos no hasteamento da bandeira em Iwo Jima e publicou um livro A Bandeira de Nossos Pais, que mais tarde foi filmado, com Clint Eastwood como diretor. Seu filho acredita que Bradley, ficou traumatizado pelo fato de seu melhor amigo, Ralph Ignatowski, ter sido descoberto horrivelmente mutilado após ter sido capturado pelos japoneses. Bradley foi obrigado a limpar os restos mortais de seu amigo e de muitos outros soldados que encontraram uma morte violenta em Iwo Jima. Ele sofreu com sintomas de estresse pós-traumático e pesadelos por muitos anos.



Polêmica envolvendo a fotografia e sua repercussão
A foto da bandeira sendo hasteada foi rapidamente distribuído pela Associated Press e amplamente divulgada em jornais americanos. Chamando imediatamente a atenção de todos que a viam.

Durante anos, na verdade até os dias atuais, há quem acredite que a foto tenha sido posada. As teorias conspiratórias mais ridículas afirmam que a foto teria sido tirada dentro de um estúdio... A origem para essas teorias seriam:

Inveja de pessoas que não são americanas e quando veem o registro de um triunfo norte americano tentam desmerecer o heróico feito de seus soldados.

Desconhecimento da história por trás do hasteamento das duas bandeiras, que alguns por desconhecimento, outros propositalmente por má fé, creditam como sendo parte de uma encenação para produzir uma “foto perfeita”. Em parte, essa versão acabou ganhando força por conta de um mal entendido. Após ter tirado a foto do hasteamento da bandeira, Rosenthal pediu para os fuzileiros se perfilarem para uma fotografia em frente da bandeira. Poucos dias depois, de volta em Guam, perguntaram à Rosenthal se ele havia tirado uma foto montada (posada). Pensando que a pergunta era sobre a foto com os militares perfilados, ele respondeu: "Claro". Apesar das tentativas de acusar Rosenthal de fraude, O filme de Genaust e o claro testemunhos dos envolvidos no hasteamento das bandeiras, comprovam que a foto tirada por ele é autêntica e sem truques.



Os envolvidos no hasteamento da primeira bandeira ficaram ressentidos quando voltaram aos EUA e passaram a ser chamados de mentirosos em público. Durante anos poucos jornalistas tiveram interesse em divulgar a história toda, contando que tinha havido os dois hasteamentos. Somente na década de 1960 todo o evento foi bem divulgado por livros especializados e pela imprensa em geral.

Dado curioso I: A fotografia de Rosenthal é a única fotografia vencedora Pulitzer tomada no mesmo ano em que ganhou o prêmio.

Dado curioso II: A fotografia foi usada como base para a estátua, os EUA Marine Corps War Memorial, localizado no cemitério de Arlington.

Dado curioso III: Se quiserem ver mais fotos e ler sobre a história da foto e como ela ficou famosa, acessem: http://www.bravoartillery.org/IwoJimaPage1.html

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