segunda-feira, 21 de abril de 2014

Conto: Na Esperança De Sair Ileso

Este é um pequeno conto que escrevi muito tempo atrás. Espero que gostem.

Na esperança de sair ileso

Não me lembro ao certo como vim parar aqui. Sei que é final da tarde, pois os refletores estão ligados, apesar da luz do sol ainda brilhar.

Fiquei muito tempo com um saco preto em cima de mim, por isso é difícil dizer quanto tempo se passou. Acho que fiquei uma semana inteira em um cômodo fechado, frio e escuro. Desse lugar até aqui, fui transportado em um veículo automotor, tipo perua. Pelo tempo que circulei, calculo que o local onde estive não era muito longe daqui.

Depois fui jogado e trancado em dois lugares que aparentavam ser imundos. O primeiro cheirava a mofo, o outro cheirava como roupa suja, com aquela murrinha característica de suor ardido dominando o ambiente.

Quando me desamarraram e tiraram o saco preto de cima de mim, (que por sinal também era bem sujo) me vi nas mãos de um rapaz, jovem, vestindo um uniforme verde. Bem próximo de nós estava um dos meus camaradas. Ele havia sido violentamente chutado de todas as formas, de um lado para o outro, e agora jazia no chão inerte.

Fomos pegos juntos e até uma semana atrás dividíamos a mesma sorte e mesma angústia de esperar pelo que nos aguardava. Não sabíamos claramente o que poderia ser, mas pressentíamos que não seria bom. Quando ele foi levado, fiquei assustado imaginando o que iriam fazer com ele. Isso aumentava a sensação de mal estar que sentia.

Antes que tirassem o saco, podia ouvir os sons de muita gente reunida gritando, batendo, apanhando e xingando. Isso só alimentava a minha ansiedade e medo de que os sons que ouvia fossem o que imaginava. No fundo queria que se esquecessem de mim e me deixassem em paz, como já vinham fazendo nos últimos dias.

Mas era uma vã esperança...

Eu já sabia disso! Uma vez em poder deles, nunca me deixariam de lado até que arrancassem de mim o máximo que pudessem. Quando vi que minha hora havia chegado, tentei fugir me jogando no chão, mas o rapaz jovem me segurou com força e me conduziu até outro rapaz (um pouco mais velho que o primeiro) com uma aparência que me punha medo.

Ele tinha os cabelos curtos, cortados bem rentes do lado, como um milico. Os seus colegas (que agora podia visualizar) também usavam o mesmo o mesmo uniforme de uma cor verde, quase verde-oliva.

Cada um parecia ter a mesma expressão de indiferença no rosto. Já era algo corriqueiro para eles o que faziam. Através do olhar de cada um, era possível perceber que alguns estavam ansiosos para me pegarem, e pouco se importavam com o que acontecia ao redor, enquanto que outros olhavam freneticamente para os lados, preocupados com a possibilidade de que alguém que pudessem surpreendê-los.

Quando meu primeiro algoz me segurou, pude notar como ele era forte. Com um simples movimento de alavanca me jogou no meio da horda que me esperava. Nem bem caí no solo fui chutado de todas as formas em todos os lugares possíveis. Parecia que gostavam de fazer aquilo!!! E como doía!!

Pensei em me encolher, em tentar me proteger, mas era inútil. Era impossível me encolher e tentar me esconder em um canto, pois eles não deixavam. Eles se dividiam na tarefa, pois as botinadas que recebia raramente eram do mesmo agressor.

Mas havia dentre eles, alguns sujeitos mais agressivos que (seja por uma explosão de raiva, ou de adrenalina, sei lá) começavam a me chutar como se quisessem arrancar meu couro. E só paravam quando eram contidos pelos demais.

O pior de todos era um rapaz escurinho e dentuço que, apesar da sua imensa barriga, não se cansava nunca. Até que tentaram contê-lo quando viram que ele não me largava mais, mas não foi possível.

Ele se desvencilhou dos demais, e quando chegou na pequena área deu um chute certeiro em mim. Voei como uma bala de canhão. Passei raspando pelos dedos do goleiro e... 

Goooool!!!!!!!!!

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